A importância de falar de política – e porque queremos fazer isso falando também de futebol

Gabriel Toueg
4 min readOct 25, 2022

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Sou um grande entusiasta da educação política. Talvez por não ter tido essa formação no período em que eu acredito que ela deva acontecer, na escola, nos primeiros anos da adolescência, eu sinta que é grande (e crescente) a importância de abordar os temas da nossa política. É uma bandeira antiga minha e confio que também o será para sempre.

Em meio a uma eleição tão polarizada — ouso dizer que a polarização é entre a barbárie e a civilidade, mais do que entre extrema-direita e esquerda — temos visto um enorme desinteresse pela política.

Enquanto muitos consideram a eleição de 2022 a “mais importante da história brasileira”, o eleitor médio ainda considera a política um assunto distante, sobre o qual é melhor não falar — ou, pior, olha para “os políticos” como uma massa homogênea que merece ser destruída para que “tudo comece de novo”. Já ouvi essa teoria dezenas de vezes.

O fenômeno das abstenções

No 1º turno do pleito deste ano, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) quase 33 milhões de eleitores — ou 20,91% do eleitorado apto a votar — escolheram se abster, não ir às urnas. São números assustadores levando em conta que no Brasil o voto é obrigatório: muita gente prefere pagar a multa (embora de valor reduzido, envolve burocracias) a ir escolher candidatos para representar seus interesses. É um segmento importante, que os candidatos buscam atrair e tentam estimular a ir votar.

Não é novidade, claro. Desde a redemocratização, quando havia uma grande mobilização na esteira das Diretas Já, eleitores que reconquistaram o direito ao voto não o fizeram de forma tão abrangente quanto se podia esperar. Em 1989, primeira eleição direta para presidente após a Ditadura Militar, a abstenção foi de 11,92% e 14,39% no 1º e no 2º turnos, respectivamente, de acordo com o TSE.

De lá pra cá, essa porcentagem tem aumentado, com algumas exceções de pequenas variações negativas entre um pleito e outro, mostrando que ainda é gigantesco o desafio de levar essa enorme parcela da população às urnas.

Abstenção nas eleições presidenciais

1989 9.784.502 de eleitores, ou 11,92% (1º turno); 11.814.017 (14,39%; 2º)

1994 16.833.946 (17,77%); não houve 2º turno

1998 22.773.983 (21,49%); não houve 2º turno

2002 20.449.987 (17,74%); 23.589.188 (20,47%)

2006 21.092.675 (16,75%); 23.914.714 (18,99%)

2010 24.610.296 (18,12%); 29.197.152 (21,50%)

2014 27.697.332 (19,39%); 30.131.111 (21,1%)

2018 20,32%; 21,29%

2022 20,91% (1º turno)

Fonte: TSE

Política e futebol

A ideia deste vídeo surgiu de uma conversa com a minha irmã e minha cunhada diante da apreensão em que eu (e boa parte da população no Brasil!) tenho vivido diante da proximidade do 2º turno e com os resultados da 1ª rodada, que deram à extrema-direita grande maioria no Congresso — indicando que, mesmo sem Bolsonaro, as chances de o bolsonarismo sobreviver por tempos ainda são expressivas.

Partimos de um pressuposto simples: futebol e política, ao contrário do que prega o dito popular, devem sim ser debatidos. E entedemos que, além de precisarmos falar sobre política, há mais coisas do que imaginamos entre ela e a nossa paixão nacional (expressar inclusive meu alívio pelo fato de a Copa do Catar, em 2022, se realizar de forma inédita em novembro, portanto após a realização e o resultado das eleições, para não servir de mais um pretexto para a distração da população).

Política e futebol têm regras. Têm quem as faz (o Congresso e a Fifa); têm quem as obedece (o Executivo, os jogadores); têm ambas a necessidade de respeito pelo acordo que as regras representam. Já imaginou uma partida de futebol em que um time tem a liberdade de mudar as regras no meio do jogo? Ia virar uma bagunça — e provocar uma enorme indignação entre os torcedores! Uma “guerra” entre as torcidas adversárias seria previsível.

É momento de exigir o respeito às regras e de também jogarmos dentro delas. A torcida, na política, somos nós, os eleitores. Só conseguimos torcer por jogos que se jogam dentro de regras claras e limpas. Bora jogar dentro das regras?

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Ficha técnica

Roteiro: Sabine Bolonhini
Revisão: Gabriel Toueg
Arte e animação: Rodiney Assunção
Locução: Rodiney Assunção

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Gabriel Toueg

Journalist. Storyteller. Former Mideast and Chile, now in SP, Brazil. Freelancer writer. Check my portfolio https://gtoueg.journoportfolio.com/ Translator.